E, sem sombra de dúvidas, sobreviver no mercado, conseguindo entender as variáveis externas que impactam no seu negócio, e que não tem como controlar, é sem dúvida um dos grandes desafios de gestão de uma empresa.
“Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças”.
Megginson
Como fazer para enfrentar o cenário em que o COVID-19 é uma realidade?
Ah mas isso já está acontecendo, ninguém previu isso? Será mesmo?
A ideia aqui é proporcionar uma ferramenta para o Pós Covid-19? Como será o mundo depois da pandemia?
Venho escrevendo em meus dois últimos artigos, sobre o conceito de cenários, como surgiram; como se dividem e, quais metodologias foram desenvolvidas, mas ainda não havia escrito um exemplo para que vocês compreendam como “desenhá-los.
Eu adaptei a metodologia e desenvolvi uma forma mais simples de aplicação e compreensão, justamente porque muitos são resistente a ferramenta, já que ela é um tanto trabalhosa.
São ótimos para estimular não só a criatividade, mas também, para estimular o desenvolvimento de muitas estratégias. Saiba mais clicando aqui!
Eu sempre digo e vou repetir agora, planejar é o que mais funciona para se atingir um resultado. Os cenários permitem que se prospecte situações futuros baseados nas incertezas que cercam nossos negócios.
A primeira ferramenta que uso é a Análise SWOT (clique aqui) , já falei escrevi sobre ela antes e só para lembrar: está análise permite a verificação de forças e fraquezas que são internas (são as variáveis internas) e, a verificação das oportunidades e ameaças (são as variáveis externas).
Após esta análise, desenvolve-se com base nas variáveis externas, a Análise PESTALD (Política, Economia, Sócio-Cultural, Tecnologia, Ambiente, Legislação e Demografia) clique aqui para saber mais.
A partir da análise interna (onde se verifica as forças e fraquezas) e da externa (variáveis ambientais), já se pode realizar um brainstorming das incertezas que podem impactar o meu negócio.
Atenção: Não é possível “copiar” análises prontas pois cada negócio é único, e cada variável o atinge de forma específica.
De posse das incertezas, já é possível traçar a lógica de cenários, que foi muito utilizada pela Empresa Shell nos anos 70, e que Marcial e Grumbach (2008) descrevem no Livro Cenários Prospectivos. Eles utilizaram o cruzamento das incertezas permitindo o surgimento de 4 cenários são eles : Shangrilá (otimista), Apocalipse (Pessimista), Cotidiano (intermediário só que + negativo ou ainda, mais realista) e, Nostradamus (também intermediário, só que + positivo e mais futuro), como na figura a seguir:
É claro que há mais implicações nas construções dos cenários, mas de forma simples eu posso “pensar” cenários a partir das variáveis e suas incertezas, e depois, aplicar ferramentas de verificação para seleção das mais importantes e de grande impacto.
Exemplo: Aqui selecionei uma variável interna: Finanças, cuja incerteza são os custos fixos x a variável externa Sócio-cultural, cuja incerteza é a demanda.
O cruzamento é feito em uma matriz que considera as abcissas matemáticas: para a direita e acima, ela é positiva; para a esquerda e abaixo, ela é negativa. O ideal é que façam como eu mostro na figura, coloquem as incertezas já no formato positivo e negativo e faça as perguntas:
– O que acontece no meu cenário quando os custos fixos estão baixos e tenho demanda positiva do meu produto/serviço?
– O que acontece no meu cenário quando os custos fixos estão baixos e tenho demanda negativa do meu produto/serviço?
– O que acontece no meu cenário quando os custos fixos estão altos, e tenho demanda negativa do meu produto/serviço?
– O que acontece no meu cenário quando os custos fixos estão altos, e tenho demanda positiva do meu produto/serviço?
Dica 1: É ideal reunir equipes multidisciplinares da empresa para gerar os cenários, pois eles mais do que ninguém conhecem o dia-a-dia da empresa.
Dica 2: É tentador colocar nos cenários soluções para os problemas elencados, mas lembrem-se de que cenários são as situações nas quais as empresas estão inseridas no momento em que se prospecta.
Bom, partindo do cruzamento das incertezas os cenários aqui poderiam ser:
Onde as variáveis cruzadas foram a variável interna: Financeiro, cuja incerteza foram os custos fixos baixos, com a variável externa Sócio-Cultural, cuja incerteza foi a demanda positiva. Teremos aqui um cenário mais otimista.
No cenário otimista, há uma demanda positiva pelos produtos e serviços, mantendo um bom fluxo de caixa e a empresa está enxuta com relação a seus custos fixos, que estão controlados, ou seja, não há gastos extras sem planejamento antecipado. As vendas em alta, há maior lucratividade, e a marca da empresa está fortalecida pelo mercado.
Onde as variáveis cruzadas foram a variável interna: Financeiro, cuja incerteza foram os custos fixos baixos, com a variável externa Sócio-Cultural, cuja incerteza foi a demanda negativa, teremos um cenário intermediário, que chamamos de Cotidiano, pois a indicação que a demanda está negativa, no entanto, o quanto ela está negativa?
Pode não ser demasiado, pode apenas estar baixa. Então, se o momento da economia for o atual (Covid-19) os custos fixos estão controlados, no entanto, a demanda está realmente negativa, o que implica em uma queda grande de vendas; em um fluxo de caixa baixo; os estoques (se existirem) podem estão parados e gerando custos que não estavam planejados; a mão-de-obra está mais ociosa;
Há dificuldades de acessar os clientes, devido a empresa não ter um mailing dos mesmos atualizada, dentre outros problemas. (percebam aqui, que podem existir mais dificuldades, cada um “desenha” de acordo com seu negócio).
Onde as variáveis cruzadas foram a variável interna: Financeiro, cuja incerteza foram os custos fixos altos, com a variável externa Sócio-Cultural, cuja incerteza foi a demanda negativa, teremos um cenário pessimista sem dúvida.
Neste cenário tudo está ruim, os cultos fixos estão altos, não há procura pelos produtos e serviços, provavelmente os estoques não estão girando e dependendo da situação, estão se perdendo e ocupando espaços que tem maior custo e estes estão fora do planejamento; a mão-de-obra está bem mais ociosa, e agora, mais desmotivada; as vendas estão caindo assustadoramente; cresce o endividamento e também, há muitas dificuldades de cumprir as obrigações legais e com os fornecedores – realmente apocalíptico não acham?
Onde as variáveis cruzadas foram a variável interna: Financeiro, cuja incerteza foram os custos fixos altos, com a variável externa Sócio-Cultural, cuja incerteza foi a demanda positiva.
Aqui teremos um cenário também intermediário, que costumamos chamar de Nostradamus, só que mais otimista porque há demanda e não sabemos como vai funcionar, então seria um futuro que não tenho certeza do que pode ocorre.
Com a demanda positiva, a empresa está vendendo, no entanto, com os custos fixos altos, não há lucratividade, pois a empresa não consegue ter um fluxo de caixa suficiente para atender aos custos, e isso também pode implicar em problemas financeiros para cumprir os compromissos. Como o momento é delicado, não há possibilidade de investimento, o que por sua vez, pode refletir na qualidade de produção dos produtos e serviços, e até mesmo, no fornecimento e atendimento deles, causando assim, um mal-estar junto aos clientes e podendo até mesmo “manchar” o nome da empresa.
Percebam que o que “desenhei” estórias baseada nas incertezas selecionadas, considerando a situação atual da empresa (eu tenho que conhecer a fundo os problemas e reconhecer que são possíveis fontes de prospecção).
Para cada incerteza e para cada lógica cruzada selecionada, novos cenários surgem, e quanto mais eu desenvolvo os cruzamentos das incertezas, mais ricos serão os cenários prospectados.
De posse destes cenários, já é possível traçar estratégias para a solução dos problemas, aplicando assim, a pró-atividade de gestão, e não apenas a reação a situações inesperadas. Ações reativas, geralmente, não salvam a empresa de uma situação ruim. É hora de parar de ser reativo e passar a ser pró-ativo.
Lembrete: Somente após traçados os cenários é que é possível o desenvolvimento de estratégias para solucioná-los.
Simples não é? Sim e não!
Sim, porque é um método, ou seja, tem um passo-a-passo a seguir e é possível para qualquer um aplicar. E não, porque exige multidisciplinaridade e criatividade e claro, tempo de dedicação, o que por muitas vezes, é o ponto mais difícil para uma empresa.
O maior problema da prospecção de cenários é fazer com que as pessoas pensem no “e se”!
Então gente, o que estão esperando para traçar seus cenários para o Pós Covid-19?
Quem não se adapta, não sobrevive no mercado!
MARCIAL, Elaine Coutinho e GRUMBACH, Raul José dos Santos. Cenários Prospectivos: Como Construir um Futuro Melhor. Editora FGV: São Paulo, 2008